Não há dúvida de que a palavra “esotérica” já esteve no seu devido lugar, isto é, esteve conotada como o “secreto”, o “interno”, o lado “irrevelado”. Obviamente o termo fazia sentido, pois certos conhecimentos não podem ser recebidos senão por aqueles que, por assim dizer, se esforçaram para abrir suas mentes e trabalharam a expansão do seu ser a partir da compreensão de seus condicionamentos e da triagem pelos caminhos do autoconhecimento. Atualmente o termo esotérico está extremamente desgastado, desfocado de seu autêntico significado, pois se reveste de uma panacéia de correlações com pseudo-misticismos, oráculos milagrosos, energias de pirâmides, sintonias sinistras e tantas outras derivas, que atuam como amortecedores e narcóticos para muitos. É que, em geral, as pessoas preferem continuar se iludindo com “fogos-fatuos” e recusam-se a aprofundar seus estudos sobre a natureza da mente humana e seus possíveis estados de consciência, assim como sobre as possibilidades de sua expansão. Recusam-se também a conhecer a natureza do silêncio interno, que, aliás, não é um estado possível de ser produzido por nenhuma química, nem por repetições de sons ou mesmo posturas ritualísticas, mas sim que surge quando o ser humano amadurecido por sua auto-sinceridade e pelo acordar de sua legítima espiritualidade se torna capaz de estar altamente atento aos movimentos de seus pensamentos e emoções. Atento também aos “por quês” de suas identificações com esta ou aquela outra corrente de idéias, e, em seguida, compreendendo que tudo isso, na verdade, não constitui a expressão da sua essência. São “agregados psíquicos” que se incorporam na psique, dificultando a expressão do seu ser real.
Para que não haja deslumbramento por “fogos pintados em tela”, é necessário que se tenha contato com o “fogo vivo”, e só é possível vivenciar tal realidade quando houver menor dependência de estímulos sensoriais e fantasiosos, quando houver a libertação da ânsia de fazer “brincadeirinhas” com tarôs, energias de cristais e outros tantos aspectos pseudo-esotéricos, supondo que estes aspectos secundários, embora estudados de maneira séria dentro da óptica do autêntico esoterismo, possam levar-nos a uma vivência do verdadeiramente sagrado. O sagrado, em primeiro lugar, não é parceiro de artimanhas do ego de ninguém, dispensa “pompas”, “ritualismos” e qualquer exaltação em relação ao chamado mundo “sobrenatural (como se o “natural” não fosse, em si mesmo, uma magnífica expressão da mesma e suprema unidade consciente presente na base e na constituição de todas as coisas e leis existentes no universo visível e invisível).
O Grande Mestre Jesus foi contundente em suas palavras, ao dizer que: “O reino de Deus está dentro de vós”. Mas o que significa este “dentro”? Certamente não se refere aos agregados de memória, colhidos em nossa trajetória existencial, nem a tudo aquilo que penetrou no Homem pelas portas dos sentidos orgânicos. É preciso esforço: onde está este “dentro”? O que é ele? Seria a personalidade, com suas vicissitudes e flutuações constantes? É fato que as dimensões física, mental e emocional acabam mantendo o ser humano cativo por toda sua existência, sem que ele saiba disso. Existiria, entretanto, “algo” dentro do homem que transcende estas dimensões? O mestre sugere que sim. Como é possível, então, encontrar este tesouro? Seria através das conquistas da ciência? Através da identificação com uma religião, em que os posicionamentos são apenas sobre crença? Seria através do alcance intelectual acerca das “verdades” ditas pelos filósofos?
Provavelmente todas essas incursões poderão auxiliar, mas certamente não serão suficientes. O grande mistério que pode transmutar o homem, tirando-o do cativeiro e tornando-o liberto, não pode ser alcançado pelo pensamento condicionado e identificado, ele só pode se apresentar ao íntimo do homem quando o mesmo tiver esgotado todos os esforços conscientes oriundos do seu “ego personal”. Tanto a concepção materialista do universo quanto as concepções pseudo-espiritualistas, às quais o homem se agarra, terão que ser superadas no progressivo caminho do autoconhecimento.
Com a clareza na interpretação do próprio conhecimento científico, compreende-se que o descortinamento de novos horizontes é resultante da expansão da mente humana, haja vista a ocorrência, nessa primeira década do terceiro milênio, do fim do paradigma mecanicista, o fim de modelos mecanicistas que tentavam explicar o Universo e a Vida em bases grosseiramente materiais. A matéria é em si mesma um motivo suficiente para percepção e sensação de que as formas materiais possuem relações de correspondência com a realidade da Consciência. Essas manifestações materiais nada significariam sem que existisse tal Consciência. É preciso estar consciente de que, de acordo com a visão atual da Física, “a matéria é energia congelada”, ou seja, matéria, ao contrário do que muitos supõem, é constituída por algo que não é matéria.
As investigações da biologia, por sua vez, demonstram que os alimentos existentes para todos os seres vivos da terra, sem exceção, são uma dádiva da energia solar, e não vai aqui metáfora alguma. O estudo sobre a fotossíntese deixa claro que a síntese de matéria orgânica (ex.: carboidratos) é feita a partir da matéria inorgânica (ex.: “CO2 e da “H2O”) devido à atuação da energia luminosa. Na realidade a energia que está presente nos alimentos provém da luz solar. Num certo sentido, portanto, todos os seres vivos do planeta terra são “lucífagos”, e mais: toda a vida orgânica do nosso planeta é inequivocamente, uma dádiva do Sol.
Dentro dos limites da ciência existem muito mais mistérios em suas entrelinhas do que naquela panacéia supostamente esotérica referida anteriormente. A palavra “esotérico” parece ser suficiente para produzir um certo “Frenesi” em muitas mentes ávidas por prodígios, que logo a revestem de um halo “misterioso”, mas “a palavra não é a coisa” e a “coisa”, certamente não caberá em nenhuma palavra. A natureza é a expressão de uma unidade consciente, de uma mente viva, inconcebível apenas pela massa cefálica, limitada por condicionamentos memorizados e identificados pela força da cognição imitativa. Pela análise de tudo aquilo que o próprio pensamento científico tem sondado nos últimos cem anos, constata-se que o materialismo não pode ser sustentado nem mesmo pela ciência, afinal ela já possui o enfoque da física quântica, já sabe que a chamada “matéria” não possui sua estruturação na própria matéria, ela provém de algo que não é matéria. Quando, portanto, Einstein constatou que “matéria” é “energia congelada”, ele sentenciava, dentro do ambiente acadêmico, a derrocada de um modelo mecanicista do universo.
Maurício Tovar.
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